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Em casa de menino de RUA o último a dormir apaga a LUA



Ele morava na rua desde que se lembrava.
Quando menino, era inconveniente por seus atos.  Brincava na rua, fazia algazarra .. para sobreviver, furtava, o que mais se poderia esperar? Dormia em qualquer lugar e, pior ainda, sua simples presença era um lembrete constante aos que acordavam todo dia do lado certo do capitalismo da existência do outro lado, o lado imundo, o lado que sofre pra que a minoria goze de seus benefícios, o lado que dorme na rua para você poder bancar seus lençóis de algodão egípcio.
Quando homem, era inconveniente por suas idéias. Era muito observador e não guardava suas descobertas para si. Gostava de dividí-las com o mundo, sem se importar se este nunca dividiu suas riquezas com ele .. ele só queria abrir seus olhos, que julgava incapazes de se abrirem por si só.
O que ele não entendia era que o mundo sabia disso tudo. Quem fechava os olhos eram as pessoas, e o faziam por comodidade, não por impotência; as verdades do homem anônimo lhes eram inconvenientes.
Um dia resolveu partilhar de suas verdades com as pessoas erradas e foi cruelmente espancado;
foi visto, também, pelas pessoas erradas e foi injustamente preso.
Nem na cadeia se enfureceu contra o mundo, mas não era de ferro; não entrou em depressão, porque este é um luxo das pessoas afortunadas, mas perdeu a inocência, aquela fé, por simples fé, de que no final eram reservados bons frutos para todos.
Foi ali, naquela cela imunda, que descobriu a crueldade, a injustiça .. a desesperança.
Ao sair da cadeia se tornou ainda mais inconveniente, pois suas verdades haviam se tornado amargas. Cruas. Tristes.
Certa manhã foi perseguido a tiros pela polícia. Sabia que ia morrer, e seu coração não poderia suportar partir sem nada deixar, passar em branco pela Terra que tanto amara.
Com uma lata de spray ainda nunca utilizada, um de seus pouquíssimos bens, aceitou de bom-grado a morte e resolveu escrever a última das verdades que escutara num muro que nunca mais seria qualquer:
Vivos somos traídos presos esquecido
Mortos só deixamos saud
Ouviu apenas um estampido e um grito de uma pedestre e fechou os olhos pela última vez – não queria presenciar o horror da cena -
e pela primeira vez se calou.
Postado Anteriormente no Blog, Existencialidades


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